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sábado, abril 03, 2004

O Golpe 64

REVOLUÇÃO DE 31/03/1964

http://www.youtube.com/watch?v=143x4czNM08


Estou achando a maior badalação a atenção que se dá ao aniversário do golpe. Uma coisa meio 'elegia a dor' baseando-se em um momento da história bastante importante, que trouxe uma mobilização enorme aos brasileiros da época, principalmente os da classe média e/ou intelectuais. A classe média se juntou e deu dinheiro para 'o bem do Brasil'. Eram patriotas e tinham valores estabelecidos, mas eram médio burgueses.
Na época eu tinha 15 anos, e tinha um pai aberto e corajoso que me explicou o que estava havendo. Eu morava em Rio Claro, interior de SP. Soube então o que era estado de sítio, qual a atitude a tomar: sair com documentos, o melhor era não sair, etc. Meu pessoal considerava o Jânio um irresponsável por ter abandonado o povo, a mercê do Jango, outro fraco. Assim a entrada dos militares, para quem não tinha ninguém (o Brasil ficou de repente um país sem Pai ) era melhor que nada. Tinha um certo 'ar europeu' para minha juventude já bem intelectualizada. Aos 18, em outra cidade, fazia faculdade e já era representante estudantil. Fui revolucionária. Era prá ter sido presa, pois tinha sido escolhida para ir ao famoso congresso de Ibiúna, dos representantes de DCEs. Não fui, e foi outra em meu lugar. Era muito pesado para meu pai ver sua filha única zanzando em passeatas, e eu não quiz ir. Admirava prá chuchu os líderes estudantis, achava correto o que fazia e ainda acho. Só que temos que lembrar uma coisa. Muitos líderes obtinham favores para disseminar o comunismo no Brasil. Eram alguns deles carismáticos, e super treinados em guerrilhas. Tive amigos mortos, torturados, sumidos. Escondi documentos importantes e perigosos no meu pensionato, etc. Orgulho-me de ter lutado para que a educação brasileira não caísse em mãos do tio Sam,através do acordo MEC-USAID. Lembro-me muito bem de ter ido a reuniões escondidas em uma paróquia aqui, levar a palavra da revolução a trabalhadores. Pelo menos na paróquia onde ia ninguém queria saber de se envolver. Minha geração cresceu em plena liberdade. Os livros proibidos - eu os li naquela época, inclusive os que falavam de sexo (tb. eram proibidos). Foi nos anos 60 no Brasil que as meninas tiveram filhos antes de casar, e foram algumas abandonadas pelas famílias. Foi a 1a. geração de meninas a usar absorvente, pílula, a falar que tinha cólica e a querer exame ginecológico ainda virgem.Estudávamos, gostávamos de teatro, Carlos Drummond, Cecília Meirelles e sabíamos tudo do modernismo. Os meninos eram extremamente interessantes, liam muito, sabiam das coisas. Claro que existiam 'cabeças ocas' ou 'boko mokos'. Escrevo tudo isto para lembrar que nunca fomos tolos e esta coisa de tentar dignificar Jango e outros mais é uma mentira. O povo odiou Jango. E durante a ditadura, mesmo a maioria não tendo sido presa, minha geração estava presente. Penso que com golpe ou sem golpe, teríamos de toda maneira lutado pelos direitos humanos. Não faço 'elegia ao golpe', mas também não choro tanto assim. As vezes é necessário que alguém assuma, e ninguém queria assumir nosso país. Hoje não haveria golpe, porque o país descambou tanto, que nem militar quer esta bomba - administrar esta fonte de riqueza (para terceiros, não para o povo) em meio a tanta corrupção, do mais digno que existe em um grupo, que é a ética. É hora de buscar de alguma maneira quebrar esta cadeia de favores, de jeitinhos, de 'dá lá toma cá'. A maneira que vejo é trabalhar com cidadania, no sentido de informar, dar consciência as pessoas acerca de seus direitos. A situação social hoje está bem pior do que em 64. Temos um presidente que é forte, não estamos abandonados, mas o problema agora está nas raízes da sociedade narcisista, do consumismo exacerbado. E é a classe média que ainda compra esta idéia. Não é só um problema de rico querer conservar seu capital, mas desta oprimida classe média ser médio burguesa mesmo, e comprar valores indignos do ser humano.

Citação

Jung: ...A vida nada mais é do que um hiato. O que fazemos dela, o sentido que damos para ela enquanto vivemos importa mais do que qualquer acúmulo de glória e riquezas materiais.