Pesquisar este blog

sábado, janeiro 10, 2009

Historinhas ( i )


Ando pensando na vida de uma psicologa de mais de 30 anos de profissão. Talvez por uma de minhas alunas completar 27 anos de formada no dia 11/01 proximo... Eu por exemplo entrei na faculdade há quarenta anos atrás... Comecei a atender pacientes ( impacientes) há 37 anos, em hospital psiquiátrico, era na disciplina psicopatologia.. Íamos em duplas e a primeira tarefa (que durou todo o ano) era fazer o diagnóstico de uma senhora internada há tempos, que ria, se exibia e achava tudo o máximo. Para mocinhas de 21 anos não era fácil entender a engenhoca do cérebro humano. Seria o que aquela entidade nosológica? (Este nome significa nome da doença, e não parece nome de 'encôsto'?) Nosso professor era muito bom (aliás ainda é, pois atende ), e queriamos fazer o trabalho correto. Foi um ano bem difícil nesta disciplina, onde nos enxergamos como incompetentes, pois o diagnóstico foi meio chutado. Ninguém era o Dr. House*.
Mas aquela mulher risonha recebeu um diagnóstico de histeria, e até hoje não sei se estava certo. Tenho minhas dúvidas...
Agora, a melhor frase sobre histeria foi de um professor de uma das universidades que conheci. Em uma festa, batendo papo, começamos a brincar com conceitos. Eu disse 'Sei lá... eu sou meio histriônica...' Ao que o eminente mestre respondeu: 'Ah, os histriônicos é que dão sabor à vida, sentem a vida com paixão'. Isso me contentou em parte, mas no fundo a gente sabe que 'de médico, poeta e louco todo o mundo tem um pouco'.

Dê uma lida

Grande parte das pessoas mostram sintomas de histeria de conversão: quando alguém somatiza algum conflito. No dia a dia, o pânico pode ser visto como repressão de desejo que necessita ser trazido a tona. Por outro lado nem toda somatização é histeria de conversão. Por que? Por estudos científicos e pela experiência clínica.
O fato é que hoje a psicopatologia deixou de ser somente conteúdo aprendido nos cursos de psicologia e medicina, para ser realidade nas ruas. Saiu dos hospitais psiquiátricos e vive nas nossas ruas, nas nossas casas, no shopping e até nos clubes.
Hoje tudo é normal.
E como é considerado normal, passa a ser adequado e aceito. Não tenho um julgamento de valor e nem ideias claras a respeito, nem é minha intenção neste momento adentrar a questão.
Quero só contar alguma coisa do que vivi, e lembrar-me de minha primeira paciente - engraçada, um pouco despudorada e meio maluquinha. Mas em 1970, a gente tinha certeza que a mulher tinha algum problema mental porque ela estava internada. A antipsiquiatria entrou em ação nesta época aqui no Brasil, mas intelectualmente conhecida por poucos, e hoje é decisão do Conselho Federal de Psicologia.
Em algumas modalidades médicas, a tendencia atual em tratamento, de uma forma geral, é utilizar as técnicas tradicionais em várias patologias.
Li no orkut, na comunidade Hérnia de Disco, que as cirurgias tradicionais desta doença, na coluna lombar, estão voltando. Ora viva! Neste caso penso que é correto, embora não médica, e deixo o espaço aberto para quem de direito. Minha mãe foi operada em 1968 e não teve recidiva.
Gostaria de saber tambem a quantas andam os antidepressivos depois de 15 anos de 'última geração' dos mesmos. Lembro-me do antigo Tofranil, que tinha efeitos colaterais do tipo gastro intestinais, e em pequenas doses curava pânico sem psicoterapia.
Também me lembro do ilustre professor Luiz Octavio de Seixas Queiroz (In Memorian), meu professor inclusive, que me curou do que seria hoje diagnosticado como 'pânico' (que eu tinha desde criança) com a técnica de Relaxamento de Jacobson e a 'Dessensibilização de Wolpe' ( em 1968-69). E não se chamava pânico, nem nome tinha. A gente chamava de 'alta taxa de ansiedade'. No caso de uma prima, que tinha uma taquicardia violenta e achava que ia morrer, depois de uns 10 anos falaram em 'prolapso de mitral' - um probleminha na válvula mitral que não mata, só destempera de quando em quando. Para mim também é alta taxa de ansiedade. Para se informar sobre esta alta taxa de ansiedade, e o tratamento, consulte aqui.
Internamente, comumente aparece a metáfora do vazio, ou ausencia do desejo, a ser trabalhado.
Acho oportuno escrever que 'desejo ' não é só 'vontade de fazer sexo'. Desejo representa toda a energia de vida que induz ao crescimento, ao 'despejar do afeto no mundo'.
A repressão é um mecanismo de defesa e como tal, nos protege de sentimentos traumáticos. Mas se não trabalhada traz somatizações - uma das coisas que aprendi estudando psicanálise, e psicanálise existencial (que trata 'do ser no mundo') .

Donde andarás, moça ...?

* House é uma série famosa do Universal Channel. A personagem é um médico niilista, reprime seu afeto até onde pode, e realmente é um peee... mas muito interessante.

Foto: google imagens

2 comentários:

Unknown disse...

Oi, menina... que saudade você me deu com as coisas que lembrou! Saudade de quando a gente tratava os clientes de coisas que não tinham nome ainda, ou os nomes mudaram mas as coisas não... saudade de quando a gente mesma tinha as coisas e nos tratavam sem que soubéssemos o que era (e como era bom não saber!), saudade do Luiz Otávio, da Profa. Maria Fernanda (ambos "in memoriam"), saudade de nós, de nossas loucuras, dos sonhos de visitar o Louvre e o Quartier Latin... ah, menina, quanta saudade!
Beijos,
Maria Rita

Unknown disse...

Obrigada pelo retorno, Rita! Tb. me lembro...com carinho.

Citação

Jung: ...A vida nada mais é do que um hiato. O que fazemos dela, o sentido que damos para ela enquanto vivemos importa mais do que qualquer acúmulo de glória e riquezas materiais.